"(...) quem nega o Inferno, de que fala a Escritura, não há a menor razão para se crer no Céu, de que a Escritura fala igualmente"
Na Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, o Papa João Paulo II afirma: "A Igreja não pode omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma catequese constante sobre o que a linguagem cristã tradicional designa como os quatro últimos fins do homem: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso" (Exort. Apost. Reconciliação e Penitência, 2.12.1984).
Logo, a Igreja nos salienta a anunciar os últimos fins do homem, neste falaremos sobre o inferno.
Mas o Inferno existe? O Santo Padre, o Papa, salientou que o Inferno existe e não está vazio. A palavra "Inferno" no Novo Testamento designa o lugar de sofrimento para aqueles que renegam a mensagem salvífica, os réprobos, descrito frequentemente com expressões como fornalha de fogo, fogo eterno, trevas exteriores, fogo da geena. O Evangelho chama-lhe gehenna, nome de uma ravina situada a sudoeste de Jerusalém, considerada um lugar impuro porque lá os judeus tinham imolado os seus filhos ao falso deus Moloc. Nos tempos de Cristo, era o monturo onde se lançava e se queimava o lixo da cidade, uma vala fervilhante de vermes em que ardiam continuamente fogueiras; é a "geena do fogo".
No Antigo Testamento encontramos uma passagem que também nos atesta a existência do Inferno, "Já se inflamou o fogo de minha cólera, que arderá até o Abismo profundo, devorará a terra com seus produtos e consumirá os fundamentos das montanhas. Acumularei desgraça sobre desgraça, contra eles lançarei todas as minhas flechas "(Dt32 ,22).
A existência do Inferno é, pois, uma verdade de fé. O Concílio Vaticano II enfatiza que, no Evangelho, Cristo nos ensina que o servo mau será lançado ás trevas e ao fogo eterno. E se atente ao fato de quequem nega o Inferno, de que fala a Escritura, não há a menor razão para se crer no Céu, de que a Escritura fala igualmente. Pois no relato do Juízo Final vemos os benditos que vão para o Céu e os malditos que vão para o suplício eterno (cf. Mt25, 31-46).
Jesus adverte-nos claramente do perigo da reprovação: Se o teu olho te escandaliza, arranca-o e lança-o para longe de ti. Melhor te é entrares na vida com um só olho, do que, tendos dois, seres lançado no fogo da geena (Mt18,9). E São Paulo explana como será esse castigo: Jesus aparecerá para fazer justiça áqueles que não conheceram a Deus e não obedeceram o Evangelho [...]. Esses tais serão punidos com a perdição eterna, longe da face do Senhor e da glória do seu poder (2 Tess 1,8-9).
Podemos então resumir a doutrina católica definida por diversos Concílios:
1. Os demônios e os homens mortos em estado de pecado sofrem, no Inferno, penas muito graves.
2. O Inferno é eterno. Algumas vezes, a palavra "eterno" pode ser tomada como sinônimo de grande duração, mas neste caso é necessário tomá-la literalmente no sentido de eternidade sem fim.
3. Para quem se encontra em estado de pecado mortal, o Inferno começa imediatamente após a morte.
4. Os condenados sofrem no Inferno uma dupla pena: a pena de dano, isto é, a privação do conhecimento direto de Deus, a separação definitiva Dele - Apartai-vos de mim, obreiros da iniquidade (Mt25, 41), Não vos conheço (Mt25, 12) -, e a pena de sentido, figurada em expressões como "fornalha ardente", "sede devoradora"..., que podem ser tomadas como metáforas. O fogo do Inferno é real, mas não se assemelha ao fogo que conhecemos, incapaz de exercer qualquer ação sobre um espírito, sobre a alma. Significa, pois, um queimor interior muito grande, semelhante ao sofrimento que experimentamos pelo remorso ou pelo desespero.
Mas será realmente eterno? Não será que, depois de um certo tempo, a misericórdia de Deus intervém em favor dos condenados?
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que não existe tempo depois da morte. Uma vez que o Inferno existe e é eterno - verdade de fé -, isso significa que não se pode falar de uma "limitação" da pena dos condenados, pois nesse caso deixaria de ser eterna. A condenação, tal como a vida bem-aventurada, não terá fim.
Façamos sempre um exame de autoconsciência para meditar em nossa conduta perante os ensinamentos de Nosso Senhor e peçamos a Virgem Maria que nos proteja, guie e instrua.
Vejamos algumas meditações dos Santos:
"Mas se tu estás com vergonha de ser pobre e desprezada, então considera como Eu, seu Deus, fiquei antes de ti, quando meus servos e amigos me abandonaram no mundo. Eu não estava procurando amigos do mundo, mas amigos do céu. E se agora estiveres preocupada e com medo do peso e dificuldade do trabalho, bem como da doença, considere quão difícil e penoso é queimar no inferno!"
(Revelações á Santa Brígida)
"E ainda admiro como os leigos, homens e mulheres, que têm fé, não gritam. E digo a
mim mesmo: Se uma casa pegar fogo e, por ser noite e por estarem todos dormindo e não
virem o perigo, porventura o primeiro que percebesse, não avisaria, não correria pelas ruas, gritando: Fogo! Fogo, em tal casa? Por que então não gritar: fogo do inferno! para acordar a tantos que vivem presos na letargia do pecado, sabendo que, ao despertarem, estarão ardendo no fogo do inferno?"
(Autobiografia de Santo Antônio Maria Claret)
"Se eu visse alguém prestes a cair num poço ou numa fogueira, garanto que correria e gritaria para avisá-lo e afastá-lo do perigo. Por que não farei a mesma coisa para evitar que caia no poço e na fogueira do inferno?"
(Autobiografia de Santo Antônio Maria Claret)
"Igualmente obriga-me a pregar sem parar, ao ver a multidão de almas que caem nos
infernos, pois é verdade de fé que todos os que morrem em pecado mortal se condenam.
Ah! a cada dia, morrem oitenta mil pessoas (segundo cálculo aproximado de então).
Quantas morrerão em pecado e se condenarão! Pois que talis vita, finis ita (tal vida, tal morte)."
(Autobiografia de Santo Antônio Maria Claret)
"A pena [sensível] do Inferno é insuportável, é verdade; mas se alguém fosse capaz de imaginar dez mil infernos, nada seria o sofrimento em compração com a pena que produz ter perdido o céu e ter sido rejeitado por Cristo."
(São Francisco de Sales, Introdução á vida devota, I, 15)
"Somente o inferno é castigo do pecado. A morte e o juízo não passam de consequências, que aqueles que vivem na graça de Deus não temem."
(Josémaría Escrivá, Sulco, n. 890)
"Se fosse somente a justiça que tivesse cavado o abismo, ainda haveria remédio; mas foi o amor quem o cavou, e é isto o que tira toda a esperança. quando se é condenado pela Justiça, pode-se recorrer ao Amor; mas quando se é condenado pelo Amor, a quem recorrer? Está é a sorte dos condenados.
(Lacordaire, Conferências de Nossa Senhora, 72)
"Se eu amo, para mim não haverá inferno"
(Josemaría Escrivá, Sulco, n. 1047)
Referências:
1. Que há para além da morte? - Edouard Clerc, Quadrante.
2. As Profecias e Revelações de Santa Brígida da Suécia
3. Autobiografia de Santo Antônio Maria Claret
Luiz Fernando Calaça Silva - Comunidade Parresia
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