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sábado, 31 de dezembro de 2016

O CURA D´ARS PORTUGUÊS

D. Eurico Dias Nogueira, então Arcebispo Primaz, assinou o decreto que introduziu a causa de canonização do PADRE ABÍLIO GOMES CORREIA



Uma outra figura que merece relevo — e não pouco — neste meu humilde trabalho, é a do Padre Abílio Gomes Correia, descrito nas redes sociais como «uma pessoa privilegiada pela natureza: homem de saúde de ferro, alto, fisicamente bem constituído, apreciador das coisas boas e belas, capaz de suportar grandes cargas de trabalho e de aguentar, impávido e sereno, as maiores contrariedades. Perante as adversidades nunca cruzava os braços e lutava, teimosamente, até resolver os problemas.»
Impressionante!

Mas quem foi este sacerdote e o que fez?

O Padre Abílio Gomes Correia nasceu em Padim da Graça (Braga) em 9 de Fevereiro de 1882. Teve como pais Manuel José Gomes e Maria Gomes Correia.
Depois de uma meninice comum a todas as crianças e de frequentar a escola da terra natal, em 1900 — tinha então dezoito anos — entrou no seminário de Braga, onde teve como colega António Bento Martins (1881-1963) que mais tarde será Arcebispo Primaz de Braga.
Foi ordenado sacerdote por D. Manuel Baptista da Cunha, a 24 de Setembro de 1904, e continuou — durante três anos — sacerdote na sua terra natal, como auxiliar do pároco. Depois deste período que se poderia chamar “tempo de aprendizagem”, foi nomeado, a 20 de Junho de 1907 pároco de S. Mamede d’Este, na periferia de Braga.
Quando ali chegou ficou espantado com o estado em que se encontrava a paróquia :
«A casa que lhe era destinada estava em ruínas: chovia lá dentro, só tinha um quarto razoável e um espaço bastante amplo que servia de cozinha, sala de jantar e local de atendimento; para a empregada — quando fosse preciso encontrá-la — apenas um cubículo sem ar nem luz onde só cabia a cama; o quarto de banho, nem prático nem cómodo; o soalho esburacado e a janela sem vidros. Não era famoso nem vistoso o palácio que her-dou…»

E a igreja?

O edifício religioso não estava em melhor estado:
«Telhas partidas, janelas sem vidros, altares sem toalhas e o próprio Sacrário estava “adornado” por dentro, com teias de aranha. O inventário de bens não lhe levou muito tempo a fazer: não havia valores nem sequer as coisas mais usadas no dia-a-dia duma Paróquia.»
“Teias de aranha no interior do sacrário” !...
Estas palavras fazem lembrar aquelas do Fundador das Maria dos Sacrários, que muitas vezes fala destas “teias de aranha”, tanto no sentido próprio como no figurado.

Acolho

Lê-se ainda, nas redes sociais, onde pesquizei que «as pessoas da freguesia eram poucas e muito pobres; raramente frequentavam os actos religi­osos e a vida moral, de cristã, tinha muito pouco. Quando chegou, com 25 anos de idade, foi recebido com indiferença pela Junta da Paróquia e mais algumas pessoas curiosas.»
O jovem Padre Abílio chegou à sua nova paróquia sozinho e instalou-se, como pôde, na residência paroquial, logo seguido pela chegada de sua mãe e um pouco mais tarde chegou sua irmã — uma irmã de leite, uma moça que a mãe criou juntamente com ele, pois os pais dessa menina tinham morrido quando ainda era bebé. Esta irmã acompanhará o Padre Abílio durante toda a sua vida e lhe sobreviverá durante ainda alguns anos.
O jovem sacerdote que se sentia só, mesmo na companhia dos seus, irá encontrar na sua própria igreja um amigo fiel que ele jamais abandonará, tornando-se mesmo dele o maior arauto que Portugal conheceu: quero falar aqui do Santíssimo Sacramento.
«Com os seus 25 anos de idade — como o explica Dom Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga —, e sem estruturas materiais nem apoios humanos, voltou-se para o Santíssimo Sacramento, devoção que sempre o atraiu.»
Esta amizade tornou-se tão grande e possessiva que o Padre Abílio passava diante do Sacrário da sua igreja todos os momentos livres que o seu ministério permitia e, como não lhe parecessem suficientes, ele passou a dormir só três horas e a passar o resto da noite na companhia do seu “Amigo” Jesus Sacramentado.
«Em S. Mamede d’Este — escreve ainda Dom Jorge Ortiga —, o seu carisma eucarístico desenvolveu-se a ponto de se iden­tificar espiritualmente com a Eucaristia, que celebrava com fervor e adorava con­tinuamente.»

A perseguição religiosa

Naqueles tempos, pouco após a implantação da República e a separação da Igreja e do Estado, o governo chefiado pelos maçons desencadeou con­tra a Igreja uma perseguição insidiosa que obrigou muitos dos seus mais ilustres bispos ao exílio e levou outros às prisões do Estado. Homens como Afonso Costa — certamente um dos mais violentos, senão o mais violento de todos —, que em plena Assembleia Nacional, não escondiam o seu anticlericalismo feroz e prometiam fazer como a quando da revolução francesa: acabar com a Igreja em Portugal. Um dos discursos do Dr. Afonso Costa sobre os bispos e mais particularmente sobre Dom António Barroso, Arcebispo do Porto, é uma “obra-prima” desta fúria anti-religiosa.
Foram extintas as ordens religiosas e os sacer-dotes proibidos de lerem nas igrejas a pastoral publicada pelo episcopado português, sob pena de prisão.
O Padre Abílio foi um dos que não aceitou esta or­dem e leu na igreja o documento do episcopado, por isso mesmo foi perseguido pela “Carbonária” e obrigado a fugir para Rio Caldo, no Gerês, em 1911, para escapar à prisão e para poder conti-nuar, secretamente o seu ministério sacerdotal.
Com o passar do tempo e as mudanças de governantes, as coisas foram melhorando pouco a pouco e o zeloso sacerdote pode assim continuar o seu ministério mais folgadamente.

Algumas fundações

Este zelo ardente pelo Sacramento do amor levou o Padre Abílio a pôr-se em contacto com os Pa-dres Sacramentinos que trabalhavam em Roma, na igreja dos Doze Apóstolos, com o fim de fundar na sua paróquia uma Agregação da Adoração ao Santíssimo Sacramento, o que aconteceu em 30 de Dezembro de 1910.
Em S. Mamede d’Este as crianças não tinham qualquer formação especial e foi então que ele fundou, em 1914, os Pajens da Eucaristia.
Em Janeiro de 1915 — já a Primeira Guerra Mundial tinha começado —, porque havia uma adesão muito grande, não apenas na sua paróquia mas também no arciprestado, ele pensou e começou a editar uma revista que publicou até ficar cego : o Mensageiro Eucarístico.
Como em S. Mamede d’Este não havia electrici­dade, telefone, nem estradas, nem comunicações, ele era o director, redactor, administrador e também o correio da revista. Ia a Braga “pela estrada construída pelos romanos” — quase 10 km — e ali tratava de todos os assuntos que a publicação impunha. «Logo a seguir à publicação da revista as assinaturas começaram a multiplicar-se.»
Entretanto chegou o momento do serviço militarfoi à inspecção e ficou apurado. Esta situação causou nele alguma perturbação, sobretudo que o país estava envolvido na Guerra de 1914-1918, que causou milhões de mortes. Mas como sempre, confiou e entregou ao “bom querer” do Senhor es-ta preocupação que lhe causava um certo medo… E acabou mesmo por não ser chamado, escapando assim ao que lhe causava um santo horror, por ser contrário à sua vocação: ter de matar. Deus nun ca abandona aqueles que n’Ele confiam!

Viagem a Roma

Num dos meios de comunicação social, lemos este texto que não tem assinatura:
«Em 1922 acompanhou o Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, a Roma onde se celebrou um Congresso Eucarístico Internacional. A viagem foi feita de barco. De regresso, inflamado pela participação no extraordinário aconteci­mento eucarístico, disparou uma pergunta — sugestão — ao seu Prelado:
– E depois de tudo o que vimos, Braga, a Roma Portuguesa, não erguerá também a voz a cantar os louvores do Santíssimo Sacramento?.
A resposta do Arcebispo não se fez esperar:
– Faria, se tivesse meios materiais. Mas como não tem, não pode fazer. E surge novo ataque do Padre Abílio:
– Eu encarrego-me de arranjar o dinheiro e tudo o mais que for necessário para que se faça um Congresso Eucarístico Diocesano. O problema ficou imediatamente resolvido:
– Faz-se mesmo e já no próximo ano. E realmente assim aconteceu. Em 1923, Braga engalanou-se e cantou desassombradamente a sua fé eucarística, acordando o país amedrontado. Foi um despertar geral na Primavera desse ano difícil para as gentes portuguesas.»

Mas não ficou por aqui… Braga é tão pequenina !

No mesmo documento citado acima, podemos ler igualmente esta saborosa conversa entre o Prelado e o Padre Abílio Gomes:
«Arrumadas as contas – do Congresso de Braga –, o Padre Abílio apresentou ao Prelado um saldo positivo de doze contos; muito dinheiro na época. D. Manuel Vieira de Matos fica admirado com tanto dinheiro e agradeceu a Deus por lhe ter colocado nas mãos os meios de que necessitava para pôr em dia as contas da Diocese e continuar com as obras da construção do Seminário da Rua de Santa Margarida. De tão satisfeito que estava, rezou acções de graças em voz alta, sem se importar com a presença do P. Abílio. Este não gostou do que ouviu e foi frontal na manifestação do seu desacordo:
– Desculpe o Sr. Arcebispo, mas não é justo pegar nas migalhas do pão que os pobres não comeram para louvar pública e solenemente a Deus e aplicá-las a pagar dívidas e a construir edifícios de pedra, por mais necessários que sejam. A Deus o que lhe pertence. Estes doze contos são uma dádiva de gente muito pobre ao San­tíssimo Sacramento e não ao Arcebispo de Braga.
Foi como se tivesse rebentado uma bomba de grande potência…
Reacção imediata do Arcebispo surpreendido:
– Então que pensa fazer? Vai devolvê-lo a quem lho deu?
– Não penso assim, Sr. Arcebispo. Julgo que a boa aplicação deste dinheiro seria na organização de outro Congresso Eucarístico, mas a nível nacional.
– Só pensas no Santíssimo Sacramento. Não és capaz de ver as coisas com realismo e sensatez. Valha-me Deus!
– Não é verdade que esteja cego… nem sequer preciso de óculos. E neste caso vejo claramente para onde deve ir esta ele-vada quantia. Quanto às obras materiais, elas não ficarão por fazer por falta de dinheiro. Para elas Deus também providenciará.
– Vamos a isso, respondeu o Prelado. Co­mece já a tratar do Congresso Nacional.
E assim se deram início aos trabalhos de organização do primeiro Congresso Eucarístico Nacional, celebrado em Braga no ano de 1924».
A este Congresso participou ainda — e foi a última vez que saiu — uma certa Alexandrina Maria da Costa, que todos conhecemos e amamos.

Congresso Eucarístico em Espanha

Nas páginas do Mensageiro Eucarístico, o Padre Abílio faz um resumo da Assembleia Geral das Marias do Sacrários, realizado em Málaga, na Espanha e ao qual participou um grupo de “Marias” da Arquidiocese de Braga. A dita Assembleia foi presidida pelo Fundador da Obra, Dom Manuel Gonzalez Garcia. Mas deixemos ao encargo do Pároco de S. Mamede d’Este e Director da Revista, o prazer de nos contar esses três dias:
«De 31 de Maio a 2 de Junho [de 1929] celebrou-se a nossa Assembleia Geral com grande satisfação e aproveitamento de quantos a ela assistiram. Houve exercícios espirituais dirigidos por um zeloso Missionário Eucarístico, e seguidos com grande recolhimento pelas “Marias” e Aspirantes da capital, e d’alguns povos da província.
As Missas de Comunhão celebradas nos três dias pelo amado Fundador foram concorridíssimas. Quanto às práticas… só ouvidas e saboreadas, mas sempre direi alguma coisa delas. O tema foi a aparição de Jesus ressuscitado à nossa irmã maior Maria Madalena junto do sepulcro, cena em que nos oferece um perfeito modelo de “Maria”. E para o provar expõe-nos o exame a que Jesus e os anjos a submetem; é no exame que se conhece a “Maria”. Um e outros lhe perguntam: “Mulher, porque choras?” As lágrimas e a dor da Madalena atraíram a atenção de Jesus e dos seus Anjos; e assim como ela não tem outra pena nem outra queixa senão a do seu Senhor desaparecido, roubado, injuriado e abandonado, também a verdadeira Maria e discípulo de S. João só têm compaixão e lágrimas para o seu Sacrário abandonado, esquecendo as suas próprias penas, que todas são ínfimas em comparação daquela; e a Maria que sair aprovada deste exame será aquela que tudo fizer por compaixão e dor do abandono de Jesus, tendo essa ferida sempre aberta no coração.
Na segunda prática explicou a acção da Maria, que vai procurar Jesus onde Ele estiver abandonado, e é engenhosa em buscar meios para o desagravar. A acção da Madalena que disse: “Se tu o tiraste diz-me onde o puseste, que o irei buscar”, é a da Maria, que, como arrebatada pelo amor do seu Jesus, e pela dor do seu abandona conjura o inimigo para que lhe descubra as causas do roubo de almas que padecem os Sacrários, e do roubo de Jesus que padecem as almas… e sem se amedrontar ante as dificuldades, vai expulsar, destruir os ladrões, quer seja a ignorância religiosa, o desconhecimento de Jesus, maus exemplos, friezas, etc., para restituir, custe o que custar, Jesus às almas e as almas a Jesus.
Na terceira prática fez um resumo das anteriores e disse que depois do exame e da acção da “Maria” vem o chama-mento, Jesus descobre-se-lhe com a deliciosíssima palavra que Madalena mereceu como rico e delicado prémio da sua fidelidade e amor: “Maria“… e ela toma posse de tão doce nome, prostrando-se em extase e aniquilada pela gratidão aos pés do seu “Mestre”. Explicou a significação desta formosa palavra com relaçõo a nós, e disse como Jesus do seu Sacrário abandonado, quando ali nos vê chegar, nos obsequia dando-nos esse doce nome, que com a delícia recebem as verdadeiras imitadoras das nossas Irmãs maiores. Comenta o encargo que Jesus dá a Maria Madalena e nela a todos nós: o de anunciar a resurreição do Senhor a seus ir-mãos, e como deseja que préguemos o Evangelho da Fraternidade do nosso Deus, para que todas as almas saibam que o Pai de Jesus é Pai delas, e Jesus seu Irmão mais velho, e que portanto os devem tratar como tais: com todo o respeito e reverência que como Deus lhe devemos, mas também com grande confiança e ilimitado amor.
A brevidade duma simples crónica não permite desenvolver mais as pfráticas do nosso Fundador e Prelado, que foram um completíssimo programa para as Marias e Discípulos de S. João. As três Missas foram acompanhadas de formosos motetes cantados pelo côro das Marias.» (Mensageiro Eucarístico, páginas 277-278)
Durante esta “Assembleia Geral” deu-se provavelmente o encontro entre os dois Fundadores e, fácil é imaginar que entre eles um mesmo amor e um mesmo zelo animavam seus corações cheios de Deus e do seu amor Misericordioso. Um e outro visavam a mesma meta: Jesus Sacramentado.
Já tive ocasião de citar alguns textos do Venerável Padre Abílio Correia, por isso mesmo não vou insistir, não sendo este trabalho apropriado para isso.

O Padre Abílio e a Alexandrina

Tudo leva a crer, para não dizer que é uma certeza incontestável, que os nomes da Alexandrina e da Deolinda, sua irmã — assim como o da professora Çãozinha —, figuram na lista dos membros do Centro de Adoração ao Santíssimo Sacramento, fundado pelo Padre Abílio Gomes Correia, sabendo-se que na casa do Calvário, em Balasar, lia-se regularmente o Mensageiro Eucarístico, visto que, segundo informações que pude obter, ainda lá existem alguns exemplares da Revista.

Partida de S. Mamede

Depois de ter passado alguns anos naquela aldeia onde desenvolveu um frutuoso ministério, o Padre Abílio foi chamado, em 1931, pelo Arcebispo.
D. Manuel Vieira de Matos pediu ao seu amigo e conselheiro, para deixar S. Mamede de Este e assumir a tarefa de Capelão do Hospital de S. Mar­cos, ainda governado por republicanos laicos, porque muitos doentes ali morriam sem os auxílios da religião. Este pedido não deve ter sido para o bom sacerdote um motivo de regozijo, sobretudo que nessa altura, a verdade seja dita, ele amava a paróquia e os paroquianos; e os fiéis viam nele um pai bondoso e esclarecido, a quem amavam e obedeciam com alegria.
«Mas para o Padre Abílio a voz dos seus superiores era a manifestação clara da Vontade de Deus. Por isso, a resposta dada ao seu Bispo foi um “sim” imediato e incondicional», como se pode ler no documento já várias vezes aqui citado.
Antes de deixar a sua paróquia, o Padre Abílio, no dia 30 de Outubro de 1930, foi até junto do altar, eram 24 horas e humildemente falou ao seu Amigo de sempre: “Vou para capelão do Hospital de S. Marcos. Deixo este Sacrário com eterna saudade”.

De volta a S. Mamede

Esta ausência da paróquia que ele tanto amava durou oito longos anos, durante os quais ele se ocupou de pôr ordem no Hospital de S. Marcos, como lhe tinha pedido o Arcebispo.
Voltou para ela em 1938. No seu jornal — Mensageiro Eucarístico — escreveu esta longa declaração, que se assemelha a uma declaração de amor:
«Quando deixei esta freguesia em Outubro de 1930, saí com intenção de não mais voltar para ela. Mas depois, em 1938, instado pelo povo para voltar a paroquiá-la, condoíme da sua triste situação e voltei, sobretudo para ver se podia realizar uns projectos grandiosos, visto os tempos serem mais favoráveis e a situação religiosa melhor.
No hospital ganhava muito mais dinheiro do que aqui na freguesia e quando o deixei, poderia ir paroquiar freguesias mais rendosas e próximas da minha naturalidade, Padim da Graça. Tinha à minha escolha S. Paio de Merelim, Cabanelas, Tibães e Pousa. Mas por causa dos meus projectos e por causa do Santíssimo Sacramento sacrifiquei tudo e voltei, porque foi aqui nesta pobre freguesia, e pobre igreja e junto ao seu pobre sacrário que eu recebi as maiores graças temporais e espirituais da minha já longa vida. Foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que eu recebi as melhores inspirações da minha vida sacerdotal e paroquial; foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que eu recebi a paixão eucarística que sempre conservei e desejo conservar até ao último momento da minha vida terrena. Quase se pode dizer, foi nesta pobre freguesia que se fundou o primeiro centro da Agregação do Santíssimo Sacramento; o primeiro centro da visita diária; o primeiro centro da Adoração Nocturna ao Santíssimo Sacramento; o primeiro centro dos Pagens do Santíssimo Sacramento. Os respectivos documentos de Erecção e Agregação às Arquiconfrarias Primárias são documentos históricos e muito honrosos e gloriosos para esta pobre freguesia, abandonada e desprezada por quase toda a gente.
Foi nesta pobre freguesia junto ao pobre sacrário da sua pobre igreja que resolvi fundar o Mensageiro Eucarístico como órgão da adoração ao Santíssimo Sacra­mento em Portugal e que tanto bem tem incutido nas almas que o assinam, e tem a honra e a glória de ser a primeira e única revista eucarística que há em Portugal e que já conta 39 anos de existência... Nestes 39 anos são milhões de páginas, milhões de linhas e milhões de letras louvando unicamente o Santíssimo Sacramento e cantando as suas misericórdias e chorando os seus abandonos, esquecimentos, desprezos e sacrilégios da grande maioria dos homens que O não conhecem. Foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que passei tantas horas, tantos dias e tantas noites inolvidáveis...
A paixão eucarística que Nosso Senhor me concedeu logo após a minha vinda para esta pobre freguesia em Julho de 1907,a santa obra da Adoração ao Santíssimo Sacramento fizeram com que eu encontrasse o Céu neste triste exílio e consagrasse a esta pobre freguesia, a esta pobre igreja, a esta pobre residência um amor maior do que o da freguesia em que fui baptizado e da casa em que nasci. Por isto tudo, e pelo muito mais que podia dizer mas não posso, nem tenho tempo, sacrifiquei tudo, e voltei para o meio deste pobre povo para continuar a levá-lo pelos caminhos de Deus para o Céu, enquanto as minhas forças mo permitirem. S. Mamede de Este, 17 de Novembro de 1953, às 24 horas. Abílio Gomes Correia.»
Durante o resto da sua vida como pároco de S. Mamede d’Este, o Padre Abílio empenhou-se na restauração da igreja paroquial e na construção do monumento do Monte Chamor, consagrado ao Coração de Jesus.
Mesmo este monumento tem a sua história que mereceria de ser contada, mas deixo para outros, mais conhecedores do que, esse cuidado.

Partida para a casa do Pai

Os anos e a doença começaram a vergar aquele homem de saúde de ferro, alto, fisicamente bem constituído, apreciador das coisas boas e belas, capaz de suportar grandes cargas de trabalho e de aguentar, impávido e sereno, as maiores contrariedades.
Ele tinha agora 75 anos e começava a ter graves problemas de vista que o obrigaram a delegar as suas “crónicas” do Mensageiro a outras mãos mais ágeis e a outros olhos melhor esclarecidos do que os dele. Também os paroquianos começaram a rodeá-lo de mais carinho, de mais solicitude, sentindo que em breve ficarão órfãos daquele “pai” que tanto amavam e por quem eram tanto amados. Mas ainda viveu no meio dos seus paroquianos mais dez anos.
Quando chegou a hora de Deus, o Padre Abílio foi internado no Hospital de S. Marcos, onde tinha sida capelão durante oito anos e ali faleceu a 29 de Junho de 1967.
Sobre esta morte esperada, mais sempre dolorosa, escreveu o cronista, falando da paróquia e dos pa­roquianos de S. Mamede d’Este:
«Quando chegou do Hospital de S. Marcos a notícia da sua morte, mergulhados em lágrimas, prepararam tudo o que era necessário para o funeral. O cadáver esteve pouco tempo na igreja. As Exéquias foram solenes. A separação foi muito custosa.
E aquele que há 60 anos foi recebido por meia dúzia de pessoas agora recebeu as lágrimas amorosas e agradecidas de todos os que foram por ele profundamente amados.»
A sua sepultura continua a ser florida pelos paroquianos e por todos aqueles que recorrem ao “Apóstolo da Eucaristia”, para receberem por seu intermédio uma graça divina, ou para agradecerem graças já recebidas.

A caminho dos altares

Em 24 de Setembro de 1997, D. Eurico Dias Nogueira, então Arcebispo Primaz, assinou o decreto que introduziu a causa de canonização.
Mais tarde, em 2002, depois de julgado pelo Tribunal Eclesiástico de Braga e da aprovação por unanimidade da Conferência Episcopal Portuguesa, o processo foi apresentado no Vaticano, encontrando-se actualmente na Congregação para as Causas dos Santos, ao cuidado do Postulador.
Mas estes processos são longos, podem demorar dezenas de anos — conhecem-se processos que demoraram séculos! – por isso é necessário rezar e pedir a Deus, pela intercessão do Padre Abílio, que ocorra um milagre que a ciência humana — que hoje tudo quer compreender e justificar — se julgue incapaz de o explicar, para que a beatificação aconteça e, mais tarde outro milagre que permita a canonização.
Cada um de nós pode e deve ser um obreiro nesta “vinha” tão grande, nesta aventura celeste e ajudar a causa, “provocando” com orações o “bom querer” de Deus.fonte

Arcebispo Primaz de Braga: O processo de canonização do P.e Abílio Correia encontra-se em Roma e todos esperamos que a Santa Sé o proclame ao mundo como modelo de fé eucarística, tal como faz com o santo Cura D’Ars, cuja imagem o P.e Abílio sempre teve na mesa de trabalho e cujas virtudes procurou imitar.

 

O Rev.º Padre Abílio Gomes Correia, o célebre pároco de São Mamede d’Este, apóstolo da Eucaristia, sacerdote apaixonado por Jesus Eucaristia, que vivia centrado no sacrário da sua paróquia e levava os fiéis a imitar a sua intensa devoção.
Com os seus 25 anos de idade, e sem estruturas materiais nem apoios humanos, voltou-se para o Santíssimo Sacramento, devoção que sempre o atraiu. Em S. Mamede d’Este, o seu carisma eucarístico desenvolveu-se a ponto de se identificar espiritualmente com a Eucaristia, que celebrava com fervor e adorava continuamente. Aos 75 anos, num momento de emoção que não conseguiu controlar, deu a conhecer que apenas dormia 3 horas por dia, dedicando toda a sua vida ao Santíssimo, quer adorando-O, sobretudo durante a noite, quer difundindo esta devoção, principalmente através da revista mensal “Mensageiro Eucarístico”.
O fruto da sua total doação ao sacrário foi extraordinário na paróquia e no país; na paróquia fundou as obras eucarísticas que a transformou radicalmente e dali irradiaram; na Diocese, foi ele o dinamizador dos grandes Congressos Eucarísticos – Diocesanos e Nacionais – da década de 1920; e no país inteiro fundou associações eucarísticas que mudaram a vida religiosa de inúmeras comunidades cristãs.
Quem estuda a vida deste sacerdote bracarense não pode deixar de ficar impressionado com o modo como viveu a sua longa vida. Pessoa humanamente bem dotada – física e intelectualmente – sentia-se plenamente realizado nos seus muitos trabalhos e obras grandiosas que implementou. Desenvolveu extraordinariamente as virtudes humanas e cristãs, contagiando quem o conheceu.
Daí que S. Mamede d’Este, ainda agora, passados quase 50 anos depois da sua morte, continua a conservar a religiosidade eucarística que recebeu do P.e Abílio. E ele, que foi recebido com indiferença e desdém quando lá chegou, repousa no meio dos seus amados paroquianos, sepultado em flores e sempre vivo no coração de todos.
O processo de canonização do P.e Abílio Correia encontra-se em Roma e todos esperamos que a Santa Sé o proclame ao mundo como modelo de fé eucarística, tal como faz com o santo Cura D’Ars, cuja imagem o P.e Abílio sempre teve na mesa de trabalho e cujas virtudes procurou imitar. Recordemo-lo nas nossas preces e imitemo-lo na nossa vida.

O CURA D´ARS PORTUGUÊS


Abilio Gomes Correia.JPG 

O CURA D´ARS PORTUGUÊS (4ª edição)

Interior da Igreja de S. Mamede de Este



Monumento ao Coração Eucarístico de Jesus situado no Monte Chamor


O P. Abílio em S. Mamede de Este
Perfil humano
O P. Abílio foi uma pessoa privilegiada pela natureza: homem de saúde de ferro, alto, fisicamente bem constituído, apreciador das coisas boas e belas, capaz de suportar grandes cargas de trabalho e de aguentar, impávido e sereno, as maiores contrariedades. Perante as adversidades nunca cruzava os braços e lutava, teimosamente, até resolver os problemas3.
S. Mamede e seus haveres
Quando chegou a S. Mamede de Este, certificou-se do ambiente onde fora parar. A casa que lhe era destinada estava em ruínas: chovia lá dentro, só tinha um quarto razoável e um espaço bastante amplo que servia de cozinha, sala de jantar e local de atendimento; para a empregada – primeiro a própria mãe e depois a sua irmã de leite – apenas um cubículo sem ar nem luz onde só cabia a cama; o quarto de banho, nem prático nem cómodo; o soalho esburacado e a janela sem vidros. Não era famoso nem vistoso o palácio que herdou…
A igreja paroquial, situada ao lado da residência, fazia um conjunto harmonioso com ela: telhas partidas, janelas sem vidros, altares sem toalhas e o próprio Sacrário estava “adornado” por dentro, com teias de aranha. O inventário de bens não lhe levou muito tempo a fazer: não havia valores nem sequer as coisas mais usadas no dia-a-dia duma Paróquia4.
As pessoas
As pessoas da freguesia eram poucas e muito pobres; raramente frequentavam os actos religiosos e a vida moral, de cristã, tinha muito pouco. Quando chegou, com 25 anos de idade, foi recebido com indiferença pela Junta da Paróquia e mais algumas pessoas curiosas5.
Ainda jovem e ficou só.
Depois da tomada de posse, o pai e o irmão P. Firmino, Pároco da Pousa, foram embora, e ele ali ficou com a mãe, a olhar pelos buracos da janela para a Serra do Carvalho. Como teria sido duro para aquele jovem sacerdote, que durante os estudos se distinguiu pela inteligência, educação e devoção. As suas classificações foram sempre ao nível das do seu colega e amigo, António Bento Martins Júnior, que viria a ser Arcebispo Primaz de Braga6.
  


 mas arranjou companhia
Surpreendentemente, apaixonou-se por aquela terra inóspita, pelas suas pobres e desorientadas gentes e, sobretudo, pelo “habitante” do miserável Sacrário. Era com o Senhor Sacramentado que o P. Abílio passava o seu tempo, desabafava e trabalhava7.
Fez-se amigo d’ Ele e por Ele ficou fascinado!!!
Decorrido algum tempo, as horas do dia já não chegavam para estarem juntos e começou a prolongar o convívio pela noite de dentro: das 24 horas do dia, só tirava três para dormir, dedicando as outras às pessoas, às tarefas que lhe competiam e à Adoração do Santíssimo Sacramento8.
Homem pragmático
Para suportar o frio rigoroso e húmido da noite que se faz sentir na Igreja, localizada junto do rio, usava uma capa grossa e levava um cão do vizinho que se deitava em cima dos pés. E assim estava desde a uma hora da noite até celebrar missa às oito. Também era seu utensílio habitual uma candeia de azeite (lampião) e o Breviário.
Com a República não se entendeu
Em 1911, a Carbonária procurou prendê-lo, mas ele protegido por quatro caçadores armados fugiu para o Gerês, vindo celebrar, às ocultas, aos fins-de–semana9.
Inovou com ousadia
Quando isto aconteceu, tinha o P. Abílio acabado de fundar a Agregação da Adoração ao Santíssimo Sacramento na Paróquia de S. Mamede de Este (29.12.1910), donde irradiou para todo o país, atingindo as comunidades de Língua Portuguesa espalhadas pelo mundo. Daqui, desta pobre terra, desta pobre igreja, deste pobre Sacrário nasceu a grande devoção ao Santíssimo Sacramento, que mudou as mentalidades e a vida dos Portugueses10.
Torna-se escritor
Em Janeiro de 1915 publicou o primeiro número da única revista eucarística que houve em Portugal, intitulada “Mensageiro Eucarístico”. A revista era mensal e o P. Abílio era o director, o redactor, o propriétário e também o empregado para tudo o que fosse preciso11.
Amante de caminhar
Em S. Mamede de Este não havia luz eléctrica, nem telefone, nem correio, nem meios de comunicação. Era a pé que ele ia a Braga, pela estrada construída pelos romanos no ano 7 da era cristã, tratar de quanto era necessário para imprimir e enviar a revista12.


Para a guerra… não
Nesse tempo Portugal encontrava-se a participar na primeira Grande Guerra.
Em 1917 o P. Abílio foi apurado para a tropa. Através do Mensageiro pediu aos 3.000 assinantes que implorassem ao Céu a graça de ele não ter de pegar em armas para matar gente. A sua guerra era promover a paz e o bem. E o Senhor permitiu que ele continuasse na sua pobre terra adoptiva, junto do pobre Sacrário, agora já acompanhado pelas gentes da paróquia a fazerem a sementeira de Amor a Deus, em todos os lugares onde se falava a língua portuguesa13.
Peregrino e atrevido
Em 1922 acompanhou o Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, a Roma onde se celebrou um Congresso Eucarístico Internacional.
A viagem foi feita de barco. De regresso, inflamado pela participação no extraordinário acontecimento eucarístico, disparou uma pergunta – sugestão ao seu Prelado:
– “E depois de tudo o que vimos, Braga, a Roma Portuguesa, não erguerá também a voz a cantar os louvores do Santíssimo Sacramento?”.
A resposta do Arcebispo não se fez esperar:
– Faria, se tivesse meios materiais. Mas como não tem, não pode fazer”.
E surge novo ataque do Padre Abílio:
– “Eu encarrego-me de arranjar o dinheiro e tudo o mais que for necessário para que se faça um Congresso Eucarístico Diocesano”.
O problema ficou imediatamente resolvido:
– “Faz-se mesmo e já no próximo ano”.
E realmente assim aconteceu. Em 1923, Braga engalanou-se e cantou desassombradamente a sua fé eucarística, acordando o país amedrontado. Foi um despertar geral na Primavera desse ano difícil para as gentes portuguesas14.
Bom administrador e refilão
Arrumadas as contas, o Padre Abílio apresentou ao Prelado um saldo positivo de doze contos; muito dinheiro na época.
D. Manuel Vieira de Matos fica admirado com tanto dinheiro e agradeceu a Deus por lhe ter colocado nas mãos os meios de que necessitava para pôr em dia as contas da Diocese e continuar com as obras da construção do Seminário da Rua de Santa Margarida. De tão satisfeito que estava, rezou acções de graças em voz alta, sem se importar com a presença do P. Abílio. Este não gostou do que ouviu e foi frontal na manifestação do seu desacordo:
– “Desculpe o Sr. Arcebispo, mas não é justo pegar nas migalhas do pão que os pobres não comeram para louvar pública e solenemente a Deus e aplicá-las a pagar dívidas e a construir edifícios de pedra, por mais necessários que sejam. A Deus o que lhe pertence. Estes doze contos são uma dádiva de gente muito pobre ao Santíssimo Sacramento e não ao Arcebispo de Braga”.
Foi como se tivesse rebentado uma bomba de grande potência…
Reacção imediata do Arcebispo surpreendido:
– “Então que pensa fazer? Vai devolvê-lo a quem lho deu?”
– “Não penso assim, Sr. Arcebispo. Julgo que a boa aplicação deste dinheiro seria na organização de outro Congresso Eucarístico, mas a nível nacional”.
– “Só pensas no Santíssimo Sacramento. Não és capaz de ver as coisas com realismo e sensatez. Valha-me Deus!”…
– “Não é verdade que esteja cego… nem sequer preciso de óculos. E neste caso vejo claramente para onde deve ir esta elevada quantia. Quanto às obras materiais, elas não ficarão por fazer por falta de dinheiro. Para elas Deus também providenciará”.
– “Vamos a isso, respondeu o Prelado. Comece já a tratar do Congresso Nacional”15.
Convincente
E assim se deram início aos trabalhos de organização do primeiro Congresso Eucarístico Nacional, celebrado em Braga no ano de 1924. Nele participou todo o Episcopado Português e, nas comunicações doutrinais sobressaíram dois professores da Universidade de Coimbra: António de Oliveira Salazar e Manuel Gonçalves Cerejeira, bem como o estudante – poeta, Bernardo de Vasconcelos. Este Congresso teve o seu encerramento no Sameiro onde se encontravam mais de 380 mil pessoas. O acontecimento repercutiu-se por todo o país e fez estremecer as estruturas políticas e as ideologias de então16.
Resguardado no seu canto
À margem das grandiosas e apoteóticas manifestações de rua na cidade, na pobre freguesia de S. Mamede de Este, refugiava-se a alma deste incêndio de devoção que queimava os corações atribulados do povo português. Na pequena igreja passava as noites o P. Abílio; durante o dia trabalhava no Mensageiro Eucarístico, atendia os paroquianos, ensinava a catequese às crianças e, ao cair do sol, tocava o sino chamando os fiéis para com ele rezar o terço do Rosário, fazer-lhes uma breve prática doutrinal, terminando com a Bênção do Santíssimo17.


Mudou tudo
Em 17 anos a vida religiosa na Paróquia tinha-se transformado radicalmente: o pároco era amado e respeitado, a igreja estava limpa e impecavelmente cuidada; as crianças todas inscritas nos Pagens da Eucaristia; as famílias tinham consagrado a sua casa ao Sagrado Coração de Jesus; os homens passavam a noite do primeiro Sábado para o Domingo em Adoração ao Santíssimo Sacramento; as mulheres faziam a Adoração durante o dia; os costumes e os modos de viver da gente eram agora orientados pelos valores do Evangelho18.
Lugar incomparável
Pode dizer-se que S. Mamede de Este era um oásis florido, onde Deus era adorado e as pessoas viviam em paz, partilhando os seus pobres haveres.
O Congresso Eucarístico de Braga foi uma semente que floriu e deu frutos não só no Norte de Portugal mas em todo o país19.
Famoso
Seguiu-se uma década de Congressos Eucarísticos nos quais o Director Nacional de Agregação ao Santíssimo Sacramento (P. Abílio) estava sempre presente, onde dirigia algumas palavras de exortação e presidia a algum acto solene.
Apesar das frequentes e prolongadas ausências da Paróquia a sua organizada pastoral mantinha em plena actividade as Associações que tinha criado e a revista saía com regularidade. O número de assinantes aumentou significativamente e os Párocos introduziram a Adoração ao Santíssimo Sacramento nos Domingos de tarde; o “Devocionário” de que se serviam era a “Adoração” publicada no Mensageiro, sempre elaborada pelo P. Abílio20.
Revolucionário
Estas ideias religiosas, semeadas em clima de oração, modificaram as mentalidades e o modo de viver dos portugueses, que se afastaram totalmente das profecias e promessas da classe política de então.
Creio que não foi mero acaso a mudança do regime político ter nascido em Braga em 1926. A nascente desta mudança encontrava-se em S. Mamede de Este e o distribuidor desta “água viva” era o pobre Vigário que trabalhava noite e dia destruindo mansamente o erro e o mal21.
II Parte
Afastado da Paróquia
Em 1931, o hospital de São Marcos, ainda governado por republicanos laicos, era uma grande preocupação para o Arcebispo de Braga. Além dos bens da Igreja andarem por mãos alheias, muitos doentes morriam sem os auxílios da religião e os Párocos da cidade andavam de candeias às avessas por causa do hospital.
D. Manuel Vieira de Matos pediu ao seu amigo e conselheiro, P. Abílio, para deixar S. Mamede de Este e assumir a tarefa de Capelão do Hospital de S. Marcos. Imagino quanto este pedido do seu Bispo o teria amargurado. Nessa altura ele amava a paróquia e os paroquianos; e os fiéis viam nele um pai bondoso e esclarecido, a quem amavam e obedeciam com alegria. O P. Abílio representava para eles tudo o que se pode esperar dum Pároco zeloso. Ele era o apoio das autoridades locais a quem ajudava e acompanhava quando era preciso pedir aos poderes centrais melhoramentos para a freguesia; era ele que matava a fome aos mais necessitados; as crianças beijavam-lhe a mão pedindo a bênção; todos a ele recorriam em qualquer espécie de necessidades. A estatura física; o modo de vestir e falar; a maneira de celebrar; a oportunidade dos conselhos e iniciativas que tomava levavam as pessoas a olhá-lo como um homem superior, a quem se admira, e um amigo sempre disponível
Mas para o Padre Abílio a voz dos seus superiores era a manifestação clara da Vontade de Deus. Por isso, a resposta dada ao seu Bispo foi um “sim” imediato e incondicional.
No dia 30 de Outubro, às 24h00, diante do Sacrário escreveu: “ Vou para capelão do Hospital de S. Marcos. Deixo este Sacrário com eterna saudade”22.
Regresso
Quando regressou, em 1938, anotou o que se tinha passado, com estas palavras: “Quando deixei esta freguesia em Outubro de 1930, saí com intenção de não mais voltar para ela. Mas depois, em 1938, instado pelo povo para voltar a paroquiá-la, condoí-me da sua triste situação e voltei, sobretudo para ver se podia realizar uns projectos grandiosos, visto os tempos serem mais favoráveis e a situação religiosa melhor.
No hospital ganhava muito mais dinheiro do que aqui na freguesia e quando o deixei, poderia ir paroquiar freguesias mais rendosas e próximas da minha naturalidade, Padim da Graça. Tinha à minha escolha S. Paio de Merelim, Cabanelas, Tibães e Pousa. Mas por causa dos meus projectos e por causa do Santíssimo Sacramento sacrifiquei tudo e voltei, porque foi aqui nesta pobre freguesia, e pobre igreja e junto ao seu pobre sacrário que eu recebi as maiores graças temporais e espirituais da minha já longa vida. Foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que eu recebi as melhores inspirações da minha vida sacerdotal e paroquial; foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que eu recebi a paixão eucarística que sempre conservei e desejo conservar até ao último momento da minha vida terrena.
Quase se pode dizer, foi nesta pobre freguesia que se fundou o primeiro centro da Agregação do Santíssimo Sacramento; o primeiro centro da visita diária; o primeiro centro da Adoração Nocturna ao Santíssimo Sacramento; o primeiro centro dos Pagens do Santíssimo Sacramento. Os respectivos documentos de Erecção e Agregação às Arquiconfrarias Primárias são documentos históricos e muito honrosos e gloriosos para esta pobre freguesia, abandonada e desprezada por quase toda a gente.
Foi nesta pobre freguesia junto ao pobre sacrário da sua pobre igreja que resolvi fundar o Mensageiro Eucarístico como órgão da adoração ao Santíssimo Sacramento em Portugal e que tanto bem tem incutido nas almas que o assinam, e tem a honra e a glória de ser a primeira e única revista eucarística que há em Portugal e que já conta 39 anos de existência… Nestes 39 anos são milhões de páginas, milhões de linhas e milhões de letras louvando unicamente o Santíssimo Sacramento e cantando as suas misericórdias e chorando os seus abandonos, esquecimentos, desprezos e sacrilégios da grande maioria dos homens que O não conhecem. Foi aos pés do pobre sacrário desta pobre igreja que passei tantas horas, tantos dias e tantas noites inolvidáveis…
A paixão eucarística que Nosso Senhor me concedeu logo após a minha vinda para esta pobre freguesia em Julho de 1907,a santa obra da Adoração ao Santíssimo Sacramento fizeram com que eu encontrasse o Céu neste triste exílio e consagrasse a esta pobre freguesia, a esta pobre igreja, a esta pobre residência um amor maior do que o da freguesia em que fui baptizado e da casa em que nasci. Por isto tudo, e pelo muito mais que podia dizer mas não posso, nem tenho tempo, sacrifiquei tudo, e voltei para o meio deste pobre povo para continuar a levá-lo pelos caminhos de Deus para o Céu, enquanto as minhas forças mo permitirem.
S. Mamede de Este, 17 de Novembro de 1953, às 24 horas.
Abílio Gomes Correia”23.
Procura meios aptos
Novamente no ambiente em que trabalhava bem e era acompanhado pelas pessoas que o rodeavam, sem deixar o essencial do seu carisma eucarístico, lançou mãos às estruturas materiais, para que estas facilitassem o trabalho pastoral.
Terminou o restauro da residência, que tinha sido iniciado por um grupo de paroquianos, chefiado por uma senhora, durante a sua ausência em Braga. A sua atenção virava-se agora para a igreja paroquial e para o Monte Chamor, onde sempre sonhou colocar um monumento ao Coração de Jesus. Entretanto surgiu a Guerra Civil em Espanha, logo seguida pela Segunda Guerra Mundial24.
A Igreja
Ignorando a situação económica do país, principiou o restauro geral da igreja. O ritmo que imprimiu nos trabalhos foi o que sempre o caracterizou: “as obras de Deus fazem-se sem interrupção e os meios materiais aparecerão quando forem necessários”.
As dificuldades que encontrou foram muitas, e, o modo como foram solucionadas, encontram-se escrito nos seus cadernos: promessas governamentais não cumpridas; prazos ignorados; falta de tudo …
O que é certo é que, em 1945, a igreja paroquial renovada estava ao serviço do culto, apesar de ainda lhe faltarem alguns adereços que ele julgava convenientes.
Faltava o Chamor, e a freguesia continuava a ser esquecida pela autarquia municipal 25.
Bem acolhido
Consciente do prestígio de que gozava junto das autoridades civis, começou a acompanhar o residente da junta, apoiando com o seu testemunho a necessidade dos pedidos que ele fazia e a urgência da resposta para o pobre povo da freguesia, muitas das vezes espezinhado e explorado pelos donos da terra que viviam como príncipes na cidade.
Os requerimentos de Junta da Freguesia que ele apoiava eram logo aceites e executados26.
Ainda faltava o monumento
Em 1954, surgiu a oportunidade para realizar o seu sonho de 1907, referente ao Chamor. A Confraria do Sameiro pôs à venda o monumento do Sagrado Coração de Jesus, inaugurado em 1904, para erguer outro mais alto do que o que lá estava. É claro que o comprou imediatamente e começou a dirigir as obras de terraplanagem do morro – feitas a pá e pica – com o suor dos seus paroquianos e a trazer em carros de bois as pedras do belo monumento.
Mais uma vez ignorou o problema dos dinheiros, mas com as esmolas de uns, os empréstimos de outros e a boa vontade de todos, o monumento foi solenemente inaugurado no dia das suas Bodas de Ouro, fazendo parte da homenagem que os paroquianos lhe fizeram. E as contas estavam todas em dia: não se devia nada a ninguém27.
Prevendo o fim da jornada
No meio de tudo isto, o Padre Abílio, agora com os seus 75 anos, começou a sentir o peso da idade. Os seus manuscritos começam a mencionar consultas nos médicos, a vista a fraquejar, os mimos dos paroquianos a multiplicarem-se … e ele a “ler” os sinais dos tempos…
Sentindo-se uma pessoa realizada, apesar de fragilizada, fazia só o que podia, sempre irradiando paz.
O Mensageiro Eucarístico continuou a sair com regularidade, a vida da Paróquia a decorrer harmoniosamente no estilo que ele ao longo dos tempos lhe imprimiu e ele continuava a perder a vista, a cuidar das tensões arteriais, a ter necessidade de alguém que o ajudasse a ir para junto do Sacrário. Mas a sua residência mantinha-se sempre airosa e de portas abertas para todos; o seu perfil igual ao que sempre foi – figura respeitável -, trajando sempre as vestes sacerdotais impecavelmente limpas, concentrado, olhando falava dentro de si mesmo, acolhedor, calmo e amigo, conselheiro sensato quando procurado, confessor sempre disponível28.
Pediu ajuda
Quando necessitou da ajuda dum colega mais jovem para realizar melhor as celebrações, começou imediatamente a seguir o novo ritmo que o coadjutor trouxe consigo: género de música, estilo de homilia, desprendimento das coisas que sempre o ocuparam – a biblioteca, o Mensageiro, os intensos contactos com os acontecimentos, os seus passeios de monge em que se fazia acompanhar dum pequeno farnel para louvar Deus a partir das belezas da natureza, etc …
O povo também sabia ler os acontecimentos e foi-se preparando para a separação física do seu muito amado pastor, que sem angústia caminhava resolutamente ao encontro do seu Amigo do Sacrário29.
Morte
Quando chegou do Hospital de S. Marcos a notícia da sua morte, mergulhados em lágrimas, prepararam tudo o que era necessário para o funeral. O cadáver esteve pouco tempo na igreja. As Exéquias foram solenes. A separação foi muito custosa.
E aquele que há 60 anos foi recebido por meia dúzia de pessoas agora recebeu as lágrimas amorosas e agradecidas de todos os que foram por ele profundamente amados30.
Lágrimas e flores
O seu cadáver foi sepultado em flores recolhidas dos campos da terra que ele amou mais do que qualquer outra.
E lá se conserva, numa sepultura em forma de capela, tendo à cabeceira a estátua de S. Pio X, o Papa da Eucaristia, e sobre a pedra mármore, sempre flores frescas. Ao visitarem o Cemitério, a primeira sepultura que é visitada é a do Sr. Padre Abílio, aquele que os ensinou a ser verdadeiros cristãos31.
III Parte
Intercessor
As intenções, que as gentes desta terra têm, passam quase todas pelo seu “Pároco”, como quando ele era vivo, e habitualmente são atendidos.
E sabem agradecer a Deus e ao intercessor32.
Fama de santidade
A fama de santidade começou a divulgar-se e a sepultura é visitada por gente de perto e de longe33.
Frutos a multiplicarem-se
Em S. Mamede de Este a maior festa é o Lausperene. São vinte e quatro horas de oração contínua, feita ora em comum ora individualmente, com todos desejosos de poderem participar. Os emigrantes recor-
dam o dia e estão presentes em pensamento eivado de saudades. Sobretudo as horas da noite, mesmo as mais incómodas, são as mais procuradas.
Antes das Missas Dominicais as pessoas não ficam no adro a actualizar o “noticiário”: entram na igreja e preparam-se para a celebração, na qual participam, ouvindo com atenção e interesse a Palavra de Deus, rezando e cantando com piedade e comungando com devoção34.
Fiquei admirado
Quando cheguei à Paróquia e deparei com este “micro clima religioso” privilegiado, comecei a estudar os manuscritos e o Mensageiro Eucarístico, da autoria do Sr. Padre Abílio, sem deixar de me informar junto das pessoas que com ele viveram. E pareceu-me que a vida deste sacerdote deveria ser estudada com cuidado35.
Mais uma vez os Prelados
Consultei o Sr. Arcebispo, D. Eurico Dias Nogueira, que foi de opinião que se aprofundasse a investigação. E não foi difícil investigar nem levou muito tempo para se constituir o Tribunal Eclesiástico para julgar das virtudes deste sacerdote.
S. Mamede em Festa
No dia 28 de Setembro de 1997 o Prelado visitou solenemente a Paróquia e nessa memorável visita deu posse ao Tribunal. Foi um dia festivo, muito esperado por todos. E depressa apareceu a sentença: “O Padre Abílio Gomes Correia viveu de modo heróico as virtudes cristãs”36.
Conferência Episcopal
Na reunião geral da Conferência Episcopal, na sua reunião de Abril de 1998, por unanimidade, pediu à Santa Sé que examinasse a sentença do Tribunal Eclesiástico de Braga na Congregação da Causa dos Santos37.
Uma folha de breve existência
Começou a ser publicado na Paróquia e a ser divulgado entre os Ministros Extraordinários da Comunhão da Arquidiocese de Braga, um pequeno Boletim intitulado “Apóstolo da Eucaristia”. E tudo adquire maior vitalidade: mais súplicas confiadas à intercessão do Sr. P Abílio; mais graças – algumas verdadeiramente extraordinárias – aparecem; mais gente a visitar o túmulo; pedidos de celebração de mais Missas em acção de graças…
Calma paciente
Ninguém tem tentado apressar a decisão da Santa Sé. Quando Roma falar, as suas orientações serão acolhidas com obediência filial, continuando a Comunidade Cristã a procurar ler nos acontecimentos a Vontade de Deus e a procurar pô-la em prática38.
Conclusão
Termino este testemunho com as palavras escritas no primeiro número de “Apóstolo da Eucaristia” pelo Sr. D. Eurico Dias Nogueira: “Um santo é um modelo a imitar, um estímulo a sermos melhores, um valor a enriquecer o património espiritual da sociedade e um motivo de legítimo orgulho para a família a que pertence e a terra que marcou a sua caminhada terrena… Se tal aprouver a Deus, os vindouros, num futuro não muito demorado, poderão rever, no saudoso pároco de S. Mamede de Este, um outro S. João Maria Vianney”.
E o actual Arcebispo Primaz, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, escreveu na sua Nota Pastoral “Louvor Perene” : “Quero referir o Reverendo Padre Abílio Gomes Correia, o célebre Pároco de S. Mamede de Este, apóstolo da Eucaristia, que vivia centrado no Sacrário da sua paróquia e que levava os fiéis a imitar a sua intensa devoção… O fruto da sua total doação ao Sacrário foi extraordinário na paróquia e no país… Quem estuda a vida deste sacerdote bracarense não pode deixar de ficar impressionado com o modo como viveu a sua longa vida… Desenvolveu extraordinariamente as virtudes humanas e cristãs, contagiando quem o conheceu… Recordemo-lo nas nossas preces e imitemo-lo na nossa vida”.
Neste tempo difícil e doloroso para a Igreja, ferida e humilhada por alguns sacerdotes que no seu percurso se desorientaram e afastaram do Mestre, Bom Pastor, seria muito oportuno o conhecimento da vida e obra de sacerdotes como o Padre Abílio Gomes Correia.

Encontra-se em curso o processo de beatificação do P. Abílio Gomes Correia, um sacerdote bracarense falecido em 29 de Junho de 1967 que se notabilizou pela devoção à Santíssima Eucaristia.



PADRE ABÍLIO GOMES CORREIAsacerdote da diocese de Braga
(1882-1967)


Apresentamos um resumo do que foi a sua vida e obra adiantando que outras informações podem ser solicitadas ao Cónego António da Costa Neiva, Pároco de S. Mamede de Este, 4710 Braga. Telefone 253 677 443.
Silva Araújo
O Padre Abílio Gomes Correia nasceu em Padim da Graça (Braga) em 9 de Fevereiro de 1882.
Filho de Manuel José Gomes e de Maria Gomes Correia, foi ordenado sacerdote em 24 de Setembro de 1904.
Começou o seu ministério sacerdotal como auxiliar do Pároco de Padim da Graça e capelão da Irmandade do Senhor dos Passos de Cabreiros.
Nomeado em 21 de Julho de 1907 pároco de S. Mamede de Este, aqui permaneceu, com duas interrupções, até à data da sua morte, em 29 de Junho de 1967.
Uma dessas interrupções consistiu em fugas provocadas pela perseguição religiosa resultante da Revolução de 1910. A igreja foi encerrada e o Pároco, para escapar à prisão, passou a celebrar Missa às escondidas, quer em capelas quer em casas particulares.
A segunda aconteceu entre Outubro de 1930 e 15 de Agosto de 1938, período durante o qual foi capelão do Hospital de Santa Casa da Misericórdia de Braga, onde regularizou os bens da Misericórdia, profundamente atingidos pela República.
Uma das actividades em que aquele Sacerdote se notabilizou foi na devoção à Santíssima Eucaristia. Iniciou a renovação eucarística em Portugal e foi um grande adorador do Santíssimo Sacramento. Durante sessenta anos praticou regularmente o seguinte horário: das 22 horas até à uma hora da manhã estava em adoração na igreja; da uma até às quatro, dormia; das quatro até à hora da Missa voltava a estar na igreja. Depois da celebração ficava longo tempo em acção de graças. Nos três dias de Carnaval passava toda a noite em adoração e desagravo.
Introduziu na Arquidiocese de Braga , em 29 de Dezembro de 1910, a Associação da Agregação e Adoração ao Santíssimo Sacramento, destinada a recrutar entre os fiéis de todas as idades e condições almas que se associassem à adoração feita pelos Religiosos do Santíssimo sacramento «para louvar a Divina Eucaristia e formar, em união com eles, uma guarda de honra em volta do Rei dos reis». Esta Associação estendeu-se a todo o País vindo a contar com 300. 000 associados, poucos anos depois.
Criou, posteriormente, os Pagens do Santíssimo Sacramento, para as crianças, em 1914; a Associação da Visita Diária ao Santíssimo Sacramento, em 1916; a Associação da Adoração Nocturna ao Santíssimo Sacramento, também em 1916.
Foi o promotor de congressos eucarísticos realizados em Braga (28 a 31 de Maio de 1923), na Póvoa de Varzim (1925), Guimarães (1927) e Viana do Castelo (1929), devendo-se-lhe também o I Congresso Eucarístico Nacional, que teve lugar em Braga de 2 a 7 de Julho de 1924.
Por ocasião do III Congresso Nacional do Apostolado da Oração, efectuado em Braga de 15 a 19 de Maio de 1957, conseguiu estender a toda a Arquidiocese Bracarense o Lausperene, que tinha instituído em S. Mamede de Este. Realizava-se, nesta freguesia, cada mês, durante a noite de Sábado para Domingo, mantido pelos homens, enquanto as mulheres adoravam o Senhor, ao menos durante três horas, na tarde desse mesmo dia.
A fim de orientar e propagar todas as obras de devoção ao Santíssimo Sacramento criou em 1914 a revista «Mensageiro Eucarístico», de que foi director e quase exclusivo redactor durante 48 anos. Esta revista, única do género em Portugal, foi o órgão da adoração ao Santíssimo Sacramento.
Notabilizou-se também pela devoção ao Coração Eucarístico de Jesus, em cuja honra fez erigir no monte Chamor, em S. Mamede de Este, um monumento com mais de 20 metros de altura, benzido em 4 de Agosto de 1957. A estátua de mármore do Sagrado Coração de Jesus segura na mão direita, ao alto, um cálice e uma hóstia, enquanto a esquerda aponta para o coração.
Durante a sua permanência em S. Mamede de Este o P. Abílio realizou também consideráveis obras materiais: restaurou a igreja paroquial, em cuja capela-mor mandou colocar seis painéis de azulejos alusivos à Ceia do Senhor, ao Santo Cura d’Ars, à comunhão frequente dos adultos e à comunhão precoce das crianças; e construiu a residência paroquial, que consagrou ao Coração de Jesus na festa de Cristo Rei de 1938; enriqueceu a igreja com uma estátua de S. Pio X, em pedra de Ançã, com metro e meio de altura. A piedade dos fiéis transladou-a, depois, para campa do seu pastor, no cemitério paroquial.
D. Eurico Nogueira assinou em 24 de Setembro de 1997 o decreto que introduz a causa de canonização do Padre Abílio Gomes Correia, que foi pároco de S. Mamede de Este, no arciprestado de Braga.
O Prelado Bracarense, nesse mesmo dia, nomeou Postulador da Causa o Arcipreste de Braga, P. Domingos Ferreira da Silva Brandão, tendo ainda constituído o Tribunal encarregado de instruir o indispensável processo., cuja fase diocesana foi concluída em 9 de Fevereiro de 2002. Seguiu, então para o Vaticano, onde será apreciado pela Congregação para as Causas dos Santos.
Na impossibilidade de presidir pessoalmente o Tribunal, D. Eurico nomeou Juiz Delegado o P. Dr. José Fernandes de Carvalho Arieiro. Como Juiz Delegado Adjunto foi nomeado o Cónego Doutor Manuel Fernando de Sousa e Silva. O Cónego Dr. Guilherme Frederico Malvar Fonseca foi nomeado Promotor de Justiça. Foi nomeado Notário o P. Dr. António de Oliveira Gomes.
A fase diocesana do processo foi concluída em 9 de Fevereiro de 2002. Seguiu, então para o Vaticano, onde será apreciado pela Congregação para as Causas dos Santos.

Padre Abílio Gomes Correia, “APÓSTOLO DA EUCARISTIA”. Sacerdote bracarense a caminho dos altares


Sacerdote bracarense a caminho dos altares

"Padre Abílio Gomes Correia, sacerdote de Braga, pastor da Eucaristia"Com o intuito de obter mais devotos a este novo beato, publicamos uma entrevista, na qual é revelada uma profunda devoção à Santíssima Eucaristia, mormente, a celebração do Santo Sacrifício da Missa; demonstrou também grande zelo pelas coisas do Senhor durante toda a sua vida. Peçamos a sua intercessão, para que, por ela, muitos outros sacerdotes também se percebam chamados à sua vocação inicial: à vida de santidade pois, um sacerdote santo, santifica, por consequência, o povo que foi confiado!

Por Álvaro Magalhães
Adaptações de frei Cleiton Robson, OFMConv.

O Padre Abílio Gomes Correia nas bodas de ouro paroquiais em 8 de Julho de 1957


Passados treze anos da introdução da causa de canonização do padre Abílio Gomes Correia, antigo pároco de S. Mamede d’Este, arciprestado de Braga, o Diário do Minhofoi falar com o atual pároco e saber se há muitos devotos daquele sacerdote, cujas graças obtidas resultem na sua beatificação e canonização. Foi o atual Arcebispo Emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, que assinou em 24 de Setembro de 1997 o decreto que introduziu a causa de canonização. O atual pároco de S. Mamede d’Este, o cônego Antônio da Costa Neiva, revela entusiasmo quando fala do seu antecessor naquela comunidade e não esconde a alegria de ter assumido aquela paróquia revestida do amor à Eucaristia, uma herança deixada pelo padre Abílio que tenta cuidar.

Diário do Minho (DM) - Quem foi o Padre Abílio?
Cônego Antônio Neiva (CAN) - Foi um simples padre de aldeia que, em 1907, chegou a S. Mamede d’Este vindo de Padim da Graça, onde era coadjutor do seu pároco, pois era natural de lá. Quando chegou aqui ficou espantado com o estado em que se encontrava a paróquia.

DM - Não conhecia a paróquia?
CAN - Nunca tinha vindo aqui. Encontrou a residência paroquial totalmente abandonada, a igreja no mesmo estado, com telhas partidas, janelas sem vidros, teias de aranha no interior do sacrário...

DM - Teve ajuda de alguém?
CAN - Veio sozinho e depois instalou-se na residência, primeiro com a mãe, depois com uma irmã de leite – uma moça que a mãe criou juntamente com ele, pois os pais dessa menina tinham morrido quando ainda era bebê. Essa irmã acompanhou o padre Abílio durante toda a vida aqui em S. Mamede e continuou a viver depois da sua morte. Quando chegou aqui ficou num isolamento muito grande e arranjou uma companhia: o Santíssimo Sacramento.

DM - Foi a paixão da sua vida...
CAN - Apaixonou-se pelo Santíssimo Sacramento, pôs-se em contato com os Padres Sacramentinos que trabalhavam em Roma, na igreja dos Doze Apóstolos, e fundou aqui, em 12 de Março de 1910, a Agregação da Adoração ao Santíssimo Sacramento. Os Padres Sacramentinos têm como missão adorar o Santíssimo Sacramento. Passado algum tempo fundou os Pajens da Eucaristia. As crianças não tinham qualquer formação especial e foi então
que ele formou os Pajens, corria o ano de 1914. Em 1915, porque havia uma adesão muito grande, não apenas aqui na paróquia mas também no arciprestado, ele pensou e começou a editar uma revista que publicou até ficar cego.

DM - Publicou sempre a revista?
CAN - Durante os anos da sua vida o padre Abílio publicou mensalmente a única revista eucarística que existiu em Portugal, intitulada “Mensageiro Eucarístico”. Como em S. Mamede d’Este não havia eletricidade, telefone, nem estradas, nem comunicações, ele era o diretor, redator, administrador e também o correio da revista. Ia pela estrada feita pelos romanos – a Via XVII – a Braga tratar das coisas da revista e logo a seguir à publicação da revista as  asinaturas começaram a multiplicar-se e foi chamado para a Inspeção Militar, e nessa altura Portugal participava na Guerra de 1914-1918. Foi apurado para a tropa e, ele que era um homem destemido, ficou cheio de medo. Pediu na revista para que rezassem para que não fosse chamado para a guerra porque não dispararia para matar gente. A batalha dele era espalhar o bem e a paz e não matar ninguém.

DM - As orações resultaram?
CAN - Por acaso não foi chamado para a guerra e publicou sempre a revista. O Arcebispo de Braga de então, D. Manuel Vieira de Matos, que teve uma experiência muito dura na I República – aliás como o próprio padre Abílio, que teve de fugir para Rio Caldo, no Gerês, em 1911, porque tinha lido na igreja a pastoral dos bispos que a Carbonária queria impedir de ser divulgada –, escolheu o padre Abílio para seu conselheiro pessoal. Em 1922, D. Manuel Vieira de Matos, o padre Abílio Gomes Correia e mais alguns sacerdotes, partiram para Roma
para participarem num congresso eucarístico internacional.

DM - Foi, com certeza, uma longa viagem?
CAN - Fizeram a viagem de barco, pois a Europa estava totalmente destruída da 1ª Guerra Mundial. Quando regressaram, vinham todos entusiasmados e o padre Abílio fascinado, com aquilo que viram e ouviram em Roma. Foi de fato um congresso assombroso. Como a viagem era longa tiveram muito tempo para falar e o padre Abílio questionou o arcebispo se Braga, como a “Roma portuguesa”, iria ficar calada perante os resultados do congresso eucarístico.

DM - Como respondeu D. Manuel?
CAN - O arcebispo disse que faria um encontro similar se tivesse meios para o organizar. Chamou a atenção do padre Abílio para a situação em que se encontrava Portugal. Só que o padre Abílio, corajoso como sempre, garantiu ao arcebispo que se as condicionantes eram apenas de ordem financeira, ele mesmo trataria de assumir a responsabilidade da organização. Resposta imediata do arcebispo: "Faz-se já no ano que vem! Se te encarregas disso, fazemos já". E foi o que fez mesmo.

DM - Como correu?
CAN - Em 1923, fez-se em Braga o I Congresso Eucarístico Diocesano. Foi tal o sucesso que o padre Abílio, como o ecônomo e responsável pela organização, quando foi apresentar contas o arcebispo apresentou-lhe um saldo positivo de 12 mil escudos, à data, uma pequena fortuna.

DM - Era dinheiro bem-vindo à diocese...
CAN - Nessa altura, D. Manuel Vieira de Matos estava a braços com muitas dívidas da diocese e estava construindo o Seminário Conciliar, atual edifício da Faculdade de Teologia Disse: "Graças a Deus que temos aqui um pé-de-meia para pôr as finanças da  diocese em dia e concluir a construção do Seminário". O padre Abílio, bastante atrevido, replicou: "Desculpe senhor arcebispo mas não estou de acordo! Estes 12 contos são fruto de migalhas que as pessoas pobres não comeram para se adorar o Santíssimo Sacramento. Agora o senhor arcebispo quer gastar estas migalhas em obras materiais e eu não concordo, porque não foi a si que foi oferecido o dinheiro mas para louvar o Santíssimo Sacramento"!

DM - Conhece-se a reação do arcebispo?
CAN - Sim. D. Manuel Vieira de Matos ficou um pouco aborrecido por ser contrariado – ninguém gosta de ser – e perguntou ao padre Abílio se estaria cego e não conseguia ver as necessidades que a diocese passava . "Estás cego! Estás fascinado com o Santíssimo Sacramento e só vês o Santíssimo Sacramento! O que é que se há-de fazer ao dinheiro?", perguntou. O padre Abílio respondeu: "Fazer no próximo ano um Congresso Eucarístico Nacional aqui em Braga". E D. Manuel disse-lhe então para avançar. Foi então organizado o congresso de 1924.

DM - Foi um acontecimento notável?
CAN - Entre os oradores do congresso, que se realizou no Theatro Circo, destacaram-se dois. Um chamava-se Antônio de Oliveira Salazar, que falou da questão social do país e foi rotulado de comunista. Outro chamava-se D. Manuel Gonçalves Cerejeira, um jovem com pouco mais de 30 anos, professor catedrático em Coimbra, e falou sobre os místicos do século XVI. Falou ou tentou falar porque depois das primeiras frases, era de tal forma o fascínio que a sua oratória provocava na assistência, que não deixava de ser constantemente aplaudido.

DM - Ficou tudo registado?
CAN - Temos a sorte das atas desse congresso terem sido publicadas, de forma que temos os textos proferidos. Quando começamos a ler a comunicação do então professor Manuel Gonçalves Cerejeira começamos a ler com os olhos, passamos a mexer com os lábios e não resistimos a ler em alta voz para nos maravilharmos com a melodia da composição literária do texto. Esse congresso terminou no Sameiro e os jornais do tempo dizem que juntou 380 mil pessoas. Isto foi sem dúvida um feito nacional já que, em 1924, para se chegar a Braga só pela via férrea, por carroças puxadas a cavalo e pouco mais. 

DM - Um acontecimento dessa envergadura teve repercussões imediatas?
CAN - Isto acordou o país e, ao mesmo tempo, fez tremer as ideologias políticas de então. Nessa altura o país estava politicamente à deriva. Durante dez anos os congressos eucarísticos
marcaram a vida do país. Em 1925 realizou-se em Guimarães o segundo congresso eucarístico diocesano mas alguns classificaram-no de nacional já que teve a presença de todo o episcopado. Nele apresentou-se a proposta de construção do templo dedicado ao Coração de Jesus. E o santuário da Penha nasceu fruto dessa promessa.

DM - Mas os congressos esmoreceram...
CAN - A época dos congressos foi absorvida pela Acção Católica em 1933. A revista manteve-se e durante a 2ª Guerra Mundial o padre Abílio continuou a publicá-la. Entre 1931 de 1938, o arcebispo D. Manuel Vieira de Matos pediu ao padre Abílio para que deixasse S. Mamede d’Este e fosse reorganizar o Hospital de São Marcos que estava ainda na mão de republicanos e com os bens completamente delapidados e, pior que isso, eram os padres que não se entendiam por causa dos batizados e funerais lá do hospital. O padre Abílio obedeceu. No ano de 1938, o padre Abílio tinha tudo organizado no hospital e foi visitar o então novo arcebispo e seu condiscípulo D. Bento Martins Júnior. Disse-lhe que a missão que lhe tinham confiado estava cumprida pelo que estava à disposição para assumir outras responsabilidades. O arcebispo disse que tinha cinco paróquias “muito boas” a precisar de um pároco e que eram próximas da sua terra natal: Padim da Graça. O padre Abílio recusou a oferta e disse que pretendia reassumir S. Mamede d’Este.

DM - Qual foi a reação do arcebispo?
CAN - D. Bento Martins Júnior terá dito ao seu amigo que estaria “tolo” por querer ir para uma paróquia pobre em vez de preferir terras mais ricas. Mas o padre Abílio argumentou: "É que eu lá posso rezar e tenho quem me acompanhe e aqui na cidade fiz todo o possível e não consegui nem rezar nem fazer que me acompanhassem". E lá regressou a S. Mamede d’Este restaurando a residência e promovendo outras obras. De 1941 a 1945, coincidindo com a 2ª Guerra Mundial, conseguiu restaurar a igreja.

DM - Como conseguiu?
CAN - Há correspondência do padre Abílio trocada com o Governo de então. Foram-lhe feitas
muitas promessas mas não havia dinheiro. E havia sempre alguma coisa que impedia de iniciar as obras. Escreveu então uma carta a um ministro agradecendo a amabilidade dispensada e alertando para o fato de a igreja precisar de uma intervenção urgente sob pena de cair em ruína. Por isso informou que ele e a sua gente iria fazer as obras como pudessem. Impressionado com a carta, o ministro comunicou ao Governador Civil que enviou à paróquia um arquiteto para que ajudasse na execução dos trabalhos trabalhos. E a igreja aguentou-se até 1996, altura em que assumi os destinos desta paróquia que me apercebi da necessidade de se fazer novo restauro.

DM - E o monumento no Chamor?
CAN - O padre Abílio foi o responsável pela construção desse monumento ao Coração de Jesus. O monte Chamor é um pequeno morro que está incrustado na Serra do Carvalho. Dali vê-se toda a paróquia e quase todas as casas conseguem avistar o monte. Primeiro o padre Abílio colocou uma pequena coluna e depois, em 1954, quando apearam um monumento que havia no Sameiro, que foi lá colocado em 1904, comprou-o. Com carros de bois conseguiu-se trazer até ao Chamor as pedras que foram reedificadas. Nessa altura mandou fazer um arranjo ao Coração de Jesus e deu-lhe o nome de Coração Eucarístico de Jesus, invocação muito rara numa imagem. Assim foi criado um ex-líbris da paróquia.

DM - A paróquia rendeu-se ao seu pastor?
CAN - Os paroquianos que em 1907 receberam o padre Abílio com indiferença, em 1957 fizeram-lhe uma homenagem muito grande, com a presença do Governador Civil, do presidente da Câmara e do vigário Geral da diocese. A partir desta altura a saúde do padre Abílio foi-se debilitando até que faleceu em 1967, com 85 anos. Na despedida as pessoas trouxeram tantas flores para o funeral que o seu caixão ficou assente num colchão de flores. Ainda hoje não faltam flores no túmulo do padre Abílio.


DM - Quando é que o processo de canonização foi apresentado ao Vaticano?
CAN - Foi em 2002, depois de julgado pelo Tribunal Eclesiástico de Braga e da aprovação por unanimidade da Conferência Episcopal Portuguesa. Agora está na Causa dos Santos, seguindo o curso normal destes processos, sempre demorados e guardados em segredo. Aguardamos que Deus faça um milagre que se possa provar perante a ciência dos homens para que se coloque o Padre Abílio Gomes Correia nos altares.

DM - Muita gente já está pedindo a intercessão do padre Abílio?
CAN - Têm surgido relatos da obtenção de graças muito grandes. É curioso que as pessoas quando pedem a Deus uma graça por intermédio do padre Abílio têm conseguido que os pedidos sejam despachados com rapidez. Quando me perguntam onde é que estará o padre Abílio no céu, respondo em tom de brincadeira que só poderá estar nos correios centrais, encarregado das encomendas pesadas.

DM - O senhor acredita que a beatificação possa estar próxima?
CAN - Creio que sim. Estou convencido que, de um momento para o outro, Deus fará um milagre que o elevará aos altares. Braga merece ter mais um santo do século XX. Estamos comemorando o centenário da República e eu estou convencido que a mudança no país ocorrida em 1926, partiu de Braga e teve a raiz em S. Mamede d’Este, pela mão do padre Abílio.

DM - A vida do padre Abílio também se cruzou com a Beata Alexandrina de Balasar?
CAN - Ali por 1918, Alexandrina Maria da Costa inscreveu-se no Centro da Adoração ao Santíssimo Sacramento aqui em S. Mamede d’Este. O seu nome figura juntamente com o de outras pessoas de Balasar nos livros dos agregados da Adoração ao Santíssimo Sacramento. Muito provavelmente a Beata Alexandrina conhecia o “Mensageiro Eucarístico” pois era o grande canal da Eucaristia em Portugal.

DM - A paróquia continua devota do padre Abílio?
CAN - O senhor padre Abílio é ainda hoje considerado o pároco de S. Mamede, e isto sem ciúmes da minha parte. Eu acabo por ser apenas seu coadjutor. Há ainda muitas pessoas de toda a parte que olham para o padre Abílio como modelo que colocou no centro da sua vida a Santíssima Eucaristia e concluem: Com Deus, tudo é fácil; sem Deus, quase tudo é impossível! 
Digitalizo o que o P. Fernando Leite (S.J.) escreveu no livro “APÓSTOLO DA EUCARISTIA”, editado em A.O., Julho de 1997, p. 7.
. «MORREU O NOSSO SANTO»
A 30 de Junho de 1967 realizou-se na freguesia de S. Mamede
de Este, suburbana de Braga, o funeral do Padre Abílio Gomes Cor-
reia falecido às onze horas do dia anterior num quarto particular do
Hospital de S. Marcos.
As manifestações de pesar superaram muito o que em tais cir-
cunstâncias é habitual. Ouviam-se exclamações como estas:
– Adeus, nosso santo!
– Lá vai o nosso santo!
– Abençoai-nos, ó santo.
– Não nos esqueçais, ó bom Pastor!
– Dai-nos amor à Sagrada Eucaristia!
Muitos tocavam objectos religiosos no seu cadáver ou tiravam
flores do caixão para conservarem como relíquia.
Foi preciso várias vezes intervir o clero presente, sobretudo o
Arcipreste de Braga, Cónego João de Barros, para se conseguir fechar
a urna e transladá-la para o cemitério paroquial.
Quem era o Pároco? Qual a razão destas dolorosas manifesta-
ções? Que freguesia era esta?
O Pároco era o P. Abílio Gomes Correia, que há quase 60 anos
vivia no meio daquele povo como pai espiritual, amigo dedicado,
protector solícito e exemplo vivo de todas as virtudes.
Nasceu a 09-02-1882 na freguesia de Santo Adrião de Padim da
Graça, do concelho de Braga, viveiro fértil de vocações sacerdotais”